Cheiro de Natal 2
No último post, tinha falado sobre o pão que faço no Natal e que estava se tornando um costume e que talvez, um dia, uma tradição. Tinha dito também que tradição mesmo era o “Doce da Vó que é feito na família da Maria Inez há mais de 50 anos. A história que conheço desse doce é contada pela minha sogra, e por ela feito todo o Natal. Ela aprendeu com a sua sogra, que certamente trouxe essa receita da Itália, de onde veio. Assim, essa tradição começou com a avó da Maria Inez (Dona Valentina), continuada - provavelmente aperfeiçoada – pela sua mãe (Dona Nena), que há dois Natais passou essa responsabilidade para ela. Como eu já tinha a “fama” de padeiro, ficou para mim a missão de preparar a massa e montar os doces. A Maria Inez ficou encarregada do recheio, que na verdade é o segredo do doce. No Natal passado ainda fizemos com a supervisão da Dona Nena, mas este já fizemos por nós próprios. Nos saímos bem, pelo menos na opinião dos familiares, que disseram estar igualzinho ao da Dona Nena. Com certeza bondade deles, ou talvez tenha que ser encarado como um incentivo para continuarmos a tradição e não privar a família com o famoso “Doce da Vó”.
Como disse, o segredo está no recheio que mistura maças cozidas, marmelada, chocolate, nozes, açúcar e nós-moscada. A massa é igual a do preparo de macarrão, e o truque é abri-la bem fina, com o requinte de salpicar manteiga e umas gotas de limão. Cada doce é feito com uma parte da massa aberta em forma oval, dividida ao meio, coberta com o recheio, enrolada e unida as pontas formando um anel. O diferente é que o doce é frito. Vou ficando por aqui, porque todos da família vão ficar fulo da vida se eu der mais detalhes. Além de tradição, é meio como segredo. Ninguém, que conhecemos, tem a receita.
Sobre a nós-moscada a minha sogra, todo ano, conta a mesma história que a sogra dela, ao ver o preço da nós-moscada dizia: “esse é o último ano que se faz o doce”. Porém, nem nos períodos de inflação elevada e planos econômicos mirabolantes fizeram a dita subir tanto que impediu que a tradição fosse quebrada.
Esse doce é interessante por ser crocante (é frito) e principalmente pelo gosto particular. A princípio se acha estranho, mas com o passar dos anos, vai se apurando o paladar e aos poucos gostando a ponto de esperar com ansiedade a chegada do Natal. Isso ocorreu comigo também. Quando experimentei pela primeira vez, há uns 37 anos atrás, pensei comigo mesmo: o que esses caras veem nesse doce? Mas hoje como aos bocados. A Mayra (filha) e a Malu (sobrinha), ainda não são muito fãs, mas creio que seja uma questão de tempo. Chegamos a fazer no ano passado alguns apenas com recheio de chocolate, especial para elas, mas este ano a pedido da própria Malu, só fizemos com o recheio original.
Finalizando, quero postar aqui a honra de ser, juntamente com a minha esposa, os responsáveis por dar continuidade a esta tradição, e espero que permaneça por muitas gerações.
PS.
Hoje me meti a fazer uns Danishes – no livro pãezinhos dinamarqueses. É um pão de massa folhada que tem uma forma parecida com um losango, creme em cima e uma fruta tipo damasco, pêssego em calda, etc. Foi a primeira vez que fiz esse tipo de massa. Sorte que pus apenas a metade da manteiga que a receita determinava, senão iria ficar um pasticho, como dizem os italianos. Na aparência ficaram razoáveis por ser a primeira vez, no gosto não sei ainda, acabaram de sair do forno. Pelo menos encheu a casa com o cheiro do pão.
Registrei o domínio www.CheiroDoPao.com.br. O domínio www.cheirodepão.com.br já havia sido registrado, mas está sob processo de liberação. Neste caso o “de” e “do” não fazem a menor diferença- o cheiro é o mesmo. Ainda não construí o site que é projeto para os próximos meses.