Enganam-se Regina, Freddy, Rene,
Nanny, Marjory, Hilda, Estevan, Jarbas, Mari, Edvaldo, Gelson, Ligia, Priscila,
Camila, Solange e eu fizemos um curso de Padeiro no SENAI. Foi muito mais que
isso. Aprendemos a conviver em grupo, tolerar as diferenças de personalidades,
lidar com pessoas de formação e características distintas, reconhecer as suas
deficiências, reprimir impulsos, renunciar para evitar conflitos. Pudemos
também expor os nossos desejos, contribuir com as nossas experiências,
demonstrar as nossas expectativas de vida. O processo de panificação contribuiu
muito com tudo isso. Enquanto a masseira transformava secos e molhados em uma
massa macia e elástica (viva a rede de glutem e o ponto de véu); a câmara de
fermentação satisfazia os desejos dos exigentes e sensíveis microorganismos do
fermento; o forno culminava o processo assando a nossa obra e liberando o
maravilhoso “cheiro de pão”, as nossas experiências de convívio em grupo
corriam soltas: os papos nos grupos que se formavam e se dissipavam em cada um
dos postos de trabalho; os palpites de pretensos experts que só tinham a
intenção de ajudar (nem sempre entendidas assim); as iniciativas dos
impacientes (onde eu me incluo), a colaboração de todos nas atividades menos
nobres (lavar os apetrechos, untar formas, ensacar os pães, etc.). A observação
dessa convivência revelou: pessoas com características de líder e outros de
liderados; os tímidos e os descontraídos, os bem resolvidos e os indecisos.
Mostrou também como as experiências talham as personalidades e como as opções
de vida caracterizam as pessoas. Tudo isso não teria acontecido se a Silvana,
nossa mestre, não nos tivesse incentivado expondo os seus problemas e as suas
experiências extracurriculares e nos desse a liberdade de exercitar esse
convivo. Foi por tudo isso que resumi o curso como sendo as seções de terapia
mais baratas que pudemos pagar.
Quanto à parte padaria do curso, os
mais de 20 tipos de pães que fizemos nos mostraram todos os truques e dicas que
dificilmente podemos aprender nos livros ou vídeos youtubes. Identificar o
ponto da massa na masseira, sentindo com as mãos a temperatura, a consistência,
abrindo-a delicadamente até reconhecer o ponto de véu. Bolear (o coisa difícil
de conseguir consistência), fazer vários formatos com ou sem recheio, com forma
ou arrumados na assadeira antes que o fermento se atice e comece a fazer a sua
parte. Evitar que os pães ressequem e identificar o ponto exato do crescimento (o
teste do dedinho – a massa teimosamente volta depois de pressioná-la). Pincelar
ou fazer cortes delicadamente para não ”matar” a fermentação (esse fermento é
mesmo enjoado pra não dizer fresquinho – como tem que ser). Cuidar da
temperatura e umidade no forneamento para fazer ou não casca, ter a paciência e
discernimento para encontrar o ponto certo do cozimento de cada tipo de pão,
nem claro nem queimado, nem molhado nem ressecado. São tantas as chances de
errar que quando conseguimos um pão crescido, bonito e saboroso é uma vitória. Praticando
repetidamente e com perseverança tudo o
que aprendemos vai fazer com que nos tornemos, se não profissionais, excelentes padeiros aos menos para olhos de quem nos
quer bem. Foi um privilégio poder conviver com todos os colegas e a professora
do curso por esses 12 últimos sábados. Grande abraço a todos.