quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Muito mais que um curso de Padeiro




Enganam-se Regina, Freddy, Rene, Nanny, Marjory, Hilda, Estevan, Jarbas, Mari, Edvaldo, Gelson, Ligia, Priscila, Camila, Solange e eu fizemos um curso de Padeiro no SENAI. Foi muito mais que isso. Aprendemos a conviver em grupo, tolerar as diferenças de personalidades, lidar com pessoas de formação e características distintas, reconhecer as suas deficiências, reprimir impulsos, renunciar para evitar conflitos. Pudemos também expor os nossos desejos, contribuir com as nossas experiências, demonstrar as nossas expectativas de vida. O processo de panificação contribuiu muito com tudo isso. Enquanto a masseira transformava secos e molhados em uma massa macia e elástica (viva a rede de glutem e o ponto de véu); a câmara de fermentação satisfazia os desejos dos exigentes e sensíveis microorganismos do fermento; o forno culminava o processo assando a nossa obra e liberando o maravilhoso “cheiro de pão”, as nossas experiências de convívio em grupo corriam soltas: os papos nos grupos que se formavam e se dissipavam em cada um dos postos de trabalho; os palpites de pretensos experts que só tinham a intenção de ajudar (nem sempre entendidas assim); as iniciativas dos impacientes (onde eu me incluo), a colaboração de todos nas atividades menos nobres (lavar os apetrechos, untar formas, ensacar os pães, etc.). A observação dessa convivência revelou: pessoas com características de líder e outros de liderados; os tímidos e os descontraídos, os bem resolvidos e os indecisos. Mostrou também como as experiências talham as personalidades e como as opções de vida caracterizam as pessoas. Tudo isso não teria acontecido se a Silvana, nossa mestre, não nos tivesse incentivado expondo os seus problemas e as suas experiências extracurriculares e nos desse a liberdade de exercitar esse convivo. Foi por tudo isso que resumi o curso como sendo as seções de terapia mais baratas que pudemos pagar.
Quanto à parte padaria do curso, os mais de 20 tipos de pães que fizemos nos mostraram todos os truques e dicas que dificilmente podemos aprender nos livros ou vídeos youtubes. Identificar o ponto da massa na masseira, sentindo com as mãos a temperatura, a consistência, abrindo-a delicadamente até reconhecer o ponto de véu. Bolear (o coisa difícil de conseguir consistência), fazer vários formatos com ou sem recheio, com forma ou arrumados na assadeira antes que o fermento se atice e comece a fazer a sua parte. Evitar que os pães ressequem e identificar o ponto exato do crescimento (o teste do dedinho – a massa teimosamente volta depois de pressioná-la). Pincelar ou fazer cortes delicadamente para não ”matar” a fermentação (esse fermento é mesmo enjoado pra não dizer fresquinho – como tem que ser). Cuidar da temperatura e umidade no forneamento para fazer ou não casca, ter a paciência e discernimento para encontrar o ponto certo do cozimento de cada tipo de pão, nem claro nem queimado, nem molhado nem ressecado. São tantas as chances de errar que quando conseguimos um pão crescido, bonito e saboroso é uma vitória. Praticando repetidamente e com perseverança  tudo o que aprendemos vai fazer com que nos tornemos, se não  profissionais, excelentes  padeiros aos menos para olhos de quem nos quer bem. Foi um privilégio poder conviver com todos os colegas e a professora do curso por esses 12 últimos sábados. Grande abraço a todos.